O Princípio da Igualdade e a Lei da Ficha Limpa: Finalmente o Supremo Tribunal Federal julgou a aplicação da Lei da Ficha Limpa com coerência e bom senso! Já não era sem tempo! Afinal, essa lei nada mais é que um reflexo do sentimento da sociedade ao que vem acontecendo na política brasileira nos últimos anos. Basta lembrar de vários casos de renúncia de políticos para se livrarem da cassação de seus mandatos e direitos políticos e, também, da justiça. Desnecessário citar nomes.
Um dos princípios constitucionais da mais alta relevância para todo o nosso ordenamento jurídico é o Princípio da Igualdade que, expresso no caput do art.5° da Constituição Federal Brasileira, vem integrar todos os outros princípios constitucionais e todo o ordenamento jurídico, quando diz que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos da Constituição Federal.
Mas, será que esse princípio é aplicado igualitariamente tanto para os cidadãos, como para os criminosos comuns, ou mesmo para nossos representantes quando cometem crimes comuns ou de responsabilidade? E será mesmo que todos os cidadãos e criminosos são iguais aos olhos da lei?
O Brasil é o país que tem hoje uma das mais abrangentes legislações penal do mundo. Aqui, a despeito da imensa tipificação penal, os crimes continuam crescendo, assustadoramente, e a impunidade prevalece sobre a justiça. Nossa Lei Penal é bastante rígida e tipifica quase todos os tipos de crimes possíveis e imagináveis, apesar da enorme flexibilidade em sua aplicação. Aqui no Brasil o que não falta são crimes tipificados.
Mas, do que adianta tantos crimes tipificados se as leis não são aplicadas rigorosamente e com isonomia entre os criminosos, sejam eles pobres ou ricos, representantes do povo (as autoridades) ou o próprio povo (o titular do Poder)? E, por que, com uma legislação penal tão abrangente, ocorre esse aumento da criminalidade a cada dia? Se todos os cidadãos de bem são iguais perante a lei, todos os criminosos (“cidadãos do mal”), também, deveriam ser mais iguais ainda, uma vez que o crime é como a droga, ou seja, ele tem, ou deveria ter, o poder de igualar aqueles que o cometem, sejam eles ricos ou pobres, representantes do povo ou representados, ou não é assim que deveria ser? Mas, pela nossa lei, nem todos os criminosos são iguais, sempre existem uns que são mais iguais que os outros... Essas falsas igualdades trazem ainda mais a “sensação de impunidade”, de desesperança e de descrença na justiça.
Não podemos continuar aceitando essas injustiças sem protestar ou pelo menos fazer um alerta às autoridades competentes, pois; não é isso que o povo brasileiro quer. Não existe injustiça maior do que, por exemplo, quando os nossos representantes, eleitos pelo voto direto, abusam de seu direito de nos representar com honestidade e idoneidade e cometem crimes absurdos e, mesmo assim, nunca são punidos. Fogem da justiça da forma mais covarde possível, renunciando ao mandato que conseguiram com o voto popular, antes mesmo de serem processados, para que, se livrando soltos de qualquer inquérito ou processo, possam voltar, com a maior “cara de pau”, a exercer o mesmo cargo eletivo, livres de qualquer acusação, como se nada tivesse acontecido! Isso é um absurdo!
O povo não agüenta mais tanta impunidade, tanta injustiça! O que o povo quer, na verdade, é a moralização de seus representantes e do Poder Público em geral. Ninguém agüenta mais esse tipo de subterfúgio que beneficia justamente os seus representantes, a quem a lei deveria tratar com mais rigor, pois; com certeza, essa não é a vontade do povo brasileiro. Ninguém quer criminosos no Congresso Nacional, no Poder Executivo ou no Judiciário. Esse tipo de crime deveria ser punido com maior rigor, uma vez que prejudica toda a sociedade e ameaça a própria democracia.
E para isso é importante reconhecer que a Lei da Ficha limpa veio senão para resolver, ao menos para minimizar essa impunidade geral, que, até então, tem reinado no reino da impunidade: o nosso querido, mas ordinário Brasil!
Sylvana Machado Ribeiro.
Sylvana Machado Ribeiro.