domingo, 20 de fevereiro de 2011

Mente desocupada, oficina do diabo!



Trabalho forçado de preso é mesmo inconstitucional?

Às vezes paro para pensar e me pergunto: o que diferencia as pessoas? Vários aspectos individuais podem diferenciá-las, mas, pelo menos um pode igualá-las: o trabalho. Mas como assim? É que o trabalho iguala as pessoas na dignidade e torna todos trabalhadores, ou seja, não interessa o ofício, todos são iguais e dignos por que são trabalhadores. Por isso devemos, sempre, valorizar o trabalho e o trabalhador e sempre dar oportunidades de trabalho para as pessoas e não esmola em qualquer de suas formas: dinheiro, bolsa família, bolsa “coitadinho”, etc...

A esmola é o inverso do trabalho, pois; ela tira toda a dignidade da pessoa colocando-a numa posição inferior diante das outras, tira a capacidade de luta, acaba com a auto-estima e coloca a pessoa “abaixo de zero”, acabando com sua capacidade de criação e de busca por um lugar ao sol na sociedade.

Então, eu me pergunto: já não está na hora de acabar com a proibição de trabalho forçado para os presos? Afinal, a maioria dos presos só está nessa situação por que talvez nunca tenha tido uma oportunidade na vida de estudar ou aprender um ofício; de trabalhar por um salário digno que possa manter a si e sua família. E se não há oportunidade igual para todos na sociedade, não seria o caso de tentar dar uma “segunda chance” para aqueles que nunca tiveram uma única oportunidade na vida?

Não estou me referindo aqui aqueles presos de crimes bárbaros, cometidos por pura maldade e que não têm mais como se regenerar. Não. Eu falo daqueles que furtaram para dar o que comer a seus filhos, aqueles que no desespero do momento cometeram crimes contra a propriedade e passam anos de suas vidas na cadeia cursando a “universidade do crime” ao invés de terem a chance de aprender um ofício ou uma profissão, para que, após pagarem pelo seu crime, terem uma nova chance de trabalhar com dignidade e não reincidirem no crime, outra vez, por falta de oportunidade.

Esse ciclo vicioso prejudica a toda a sociedade e aumenta cada dia mais a criminalidade. E quem tem muito a perder somos nós que tivemos oportunidade de estudar e trabalhar em uma profissão, mas que, de repente, nos vemos privados da própria vida por aqueles que nunca tiveram uma única oportunidade, mas que não tendo mais nada a perder preferem voltar ao cárcere, cometendo outros crimes, a passar fome novamente em liberdade!

Está na hora de se repensar se a proibição de trabalho forçado é realmente constitucional. Afinal, inconstitucional é não dar oportunidade igual para todos, sejam eles livres ou encarcerados! Afinal, muito melhor do que manter a ociosidade improdutiva dos presos, em nome da proibição de trabalhos forçados, é começar a obrigar os presos a trabalhar ou aprender uma profissão, se não for por suas próprias vontades, que seja, então, como um tipo de pena (muito melhor do que as penas privativas de liberdade e ociosidade), pois, como diziam os antigos: mente desocupada, oficina do diabo!

Sylvana Machado Ribeiro é advogada em Brasília.


segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Dilma, Educação e os Concursos Públicos.


Artigo publicado na FolhaOnline, na coluna Leitor, no dia 12 de fevereiro de 2011, e no Correio Brasiliense,na coluna Opinão, do dia 14/02/11.


Em seu primeiro pronunciamento, como presidenta do Brasil, em rede nacional, ontem, dia 10 de fevereiro de 2011, após 40 dias de governo, a Presidente Dilma enfatizou a importância de se valorizar a educação brasileira, acima de tudo, e, com prioridade máxima, em relação às outras áreas de igual importância para o desenvolvimento do Brasil. Louvável sua nobre intenção senão fossem questionáveis seus critérios de prioridade. Afinal, ao mesmo tempo em que ela valorizou a educação com uma mão, ela desvalorizou os estudantes brasileiros, com a outra, na medida em que resolveu acabar com os concursos públicos. Isso é o que eu chamo de “dar com uma mão e tomar com a outra”.  Mas o que tem uma coisa haver com a outra? Tudo! Afinal do que adianta valorizar a educação se quando o estudante quiser se tornar um profissional ele não será reconhecido pelos seus méritos como, por exemplo, o de passar em um concurso público e exercer com dignidade uma profissão tão almejada e ao mesmo tempo tão desvalorizada como a do servidor público? Já está na hora de se abandonar os velhos critérios de seleção de servidores públicos, tão conhecidos dos antigos políticos da “velha guarda”, e realmente priorizar os concursos públicos como a primeira senão única forma legal de investidura em cargo público para, com isso, realmente se priorizar e valorizar a tão almejada educação!

Sylvana Machado Ribeiro, advogada em Brasilia.